Entrevista a António Gedeão

 

            Neste diálogo pretendemos realçar a personalidade de um nome intrínseco a Rómulo de Carvalho: António Gedeão, o seu pseudónimo. A entrevista seguinte tem como entrevistado Rómulo de Carvalho, porém, a falar e a sentir como António Gedeão, o Poeta aberto, expressivo, sentimental e metafórico.

 

Jornalista.: Boa Tarde!

António Gedeão: Boa Tarde!

 

J.: Quando e como “nasceu”?

A.G.: “Nasci” por volta de 1956, graças à necessidade de Rómulo de Carvalho criar um nome que o representasse na poesia. O primeiro nome, António, surgiu devido a cumplicidade de Rómulo com o seu tio, que era chamado António. E o apelido, Gedeão, provém do nome de um aluno.

 

J.: Porquê a necessidade de escrever poesia?

A.G.: A Poesia é uma forma de expressão através de palavras, que, supostamente, não são “vistas” por ninguém, ou seja, ao escrever poesia, liberto-me de qualquer medo, angústia, raiva, revolta, de qualquer sentimento que me esteja a sufocar. Sabendo que a Poesia é, de certo modo, “secreta e íntima”, já que só quem escreve sabe e sente o que realmente as palavras expressam, o método de poetizar torna-se uma conversa comigo mesmo, com o meu imaginário.

Desde pequeno que gostava de literatura, porém, até então, eu não tinha noção das emoções que, um dia, iriam assolar-me e me darem asas. Portanto, escrevia a brincar, a dançar com as palavras que se uniam na minha mente. Entretanto, fui crescendo e comecei a amadurecer, sempre com a Poesia confidente ao lado. Durante a adolescência, enquanto eu fazia a poesia nascer do lápis, libertava todas as minhas euforias e melancolias, tornando-me numa pessoa fechada a alheios e aberta às letras.

Em suma, como muitas pessoas expressam os sentimentos através de danças, músicas, quadros e canções, eu expresso-me, desde sempre, através das palavras combinadas num sentimento - a Poesia -.

 

J.: Como se sente ao poetizar?

A.G.: Quando escrevo poesia…sinto-me, literalmente, como uma Ave, com asas para subir o quão alto o infinito me deixar, com poder para percorrer o mundo sem a intervenção humana; somente a influência da Natureza, do meu saber e da minha intuição me levam mais além. E quando releio uma bela poesia, é como se eu estivesse a ler cada palavra da minha vida, a ver cada momento marcante, a traduzir através de letras os meus sentimentos mais profundos… É isso que faz da poesia um objecto raro e inconfundível: a transformação de simples e superficiais palavras em emoções fortes e intocáveis, escondidas num refúgio que ninguém é capaz de achar: o horizonte da mente.

 

J.: O que tenta transmitir com as suas poesias?

A.G.: As poesias direccionadas para o povo, para os outros são, na sua maioria, constituídas por versos de carácter sociocultural. Portanto, com os meus poemas pretendo abrir os olhos alheios para outros lados da razão. Tenho uma opinião formada, por exemplo, sobre o racismo em Portugal que pode ser ou não diferente da dos leitores, mas que de qualquer maneira, irá abrir mais o leque de pensamentos influenciando a ideia dos mesmos sobre o Racismo.

Por outro lado, a minha Poesia pode ter um impacto diferente sobre os que a quiserem ler. O encontro da atenção do leitor com as minhas rimas pode resultar na identificação acolhedora e compreensiva de sentidos, dores e paixões.

Ao publicar as minhas Poesias, quero que os que as leiam se sintam acolhidos, protegidos por palavras, e que a sua leitura dê que pensar.

 

J.: Como se sentiu quando ouviu o seu poema “Pedra Filosofal”, musicado por Manuel Freire?

A.G.: Orgulho e alegria. Este poema é muito intenso para mim, porque reflecte tudo aquilo que eu pensava, tudo aquilo por que tinha curiosidade, tudo o que me limitava, tudo aquilo que apertava as minhas asas. Quando o ouvi, em tão bela melodia, senti que aquele poema estava completo. Fiquei orgulhoso, afinal fui eu que fiz o poema...  Automaticamente, pensei na relação que, naquela época, poderia existir entre a juventude e os revoltados do 25 de Abril. Humildemente falando… a canção ficou, de todo, espectacular!